domingo, 19 de março de 2017

Sugestões para a semana

Livros

«Carnaval no fogo», Ruy Castro, Tinta da China, 237 páginas. Mais uma magnífica edição sob a chancela de Carlos Vaz Marques com um dos grandes autores brasileiros que melhor retrata a sua sociedade e as suas gentes. Aqui a história do Rio de Janeiro, uma leitura agradavelmente açucarada.

«A República da Máfia», John Dickie, Edições 70, 547 pág. Toda a história dos primórdios da Cosa Nostra, Ndrangheta e Camorra. Ritmado, factual, extremamente interessante.

«A dama do lago», Raymond Chandler, Colecção Vampiro, 286 pág. Saudei na altura o regresso deste clássico que é a colecção Vampiro que reunia uma série de grandes autores de policiais. É o segundo volume que publicam de Chandler, Marlowe é irresistível, é um deleite de escrita a cada página.

Cinema

Em casa, sublinho esta noite na 2, à Meia-Noite, "Alemanha, Ano Zero", de Roberto Rosselini, um dos seus filmes do tríptico sobre o pós-guerra.
No TVC2, na quinta às 22h, mais um do ciclo dos baseados nas peças de Tennessee Williams, "Corações na penumbra" de Richard Brooks.
Em sala, recomendo esta semana que a Cinemateca continua a dedicar ao ciclo integral de Ernst Lubitsc. Pelas 18h Hans Hurch, todos os dias, explica a genial obra do grande cineasta.

Séries

Recomendo a estreia da terceira temporada de American Crime no TV Séries na terça.
Sugeria também que dessem mais atenção a uma boa série portuguesa na RTP1, "A filha da Lei", que para os meios que tem está bem realizada e na RTP 2 os últimos episódios do thriller sueco "Jordskott"

Documentários

Na TV5 espreitem o habitual Mediterraneo sobre a cultura dos povos que circunda o mar e um programa muito interessante que passa na madrugada de sexta, "300 millions de critiques", o mundo da cultura vista por vários ângulos dos que falam em franc~es

Exposição

Ainda têm muito tempo para irem à Gulbenkian verem a notável exibição da arte de Almada negreiros

Restaurante

O único restaurante que frequento dentro de um centro comercial é o do meu amigo Manuel fernandes, "O Madeirense", nas Amoreiras, toda a boa gastronomia, e simpatia, que vem daquela ilha tão simpática  

Medina, Cristas e a amiga de Vale e Azevedo

O meu artigo desta semana no ECO que pode ler aqui.

5 histórias de pessoas que precisam de silêncio

Paulo Macedo – tem o trabalho da sua vida. Pacificar uma marca, dar tranquilidade aos milhares de funcionários, tirar a Caixa Geral de Depósitos do abismo negro (2 mil milhões de prejuízos) em que quase durante um ano esteve ingovernável, enquanto fazia manchetes e gerava histórias que nada têm que ver com a sua actividade que é essencial para o desenvolvimento da economia. Pede-se silêncio para que tudo volte aos eixos.
Carlos Costa – teve de dar explicações, notas e entrevistas para “damage control” dos danos reputacionais que a instituição que tutela sofreu após a excepcional reportagem da SIC. O Banco de Portugal (BdP) e o seu Governador foram completamente chacinados mediaticamente após todos os portugueses terem percebido que as estações mudam, o sol volta a qualquer momento, os dias nascem, mas só no BdP nada muda. Costa, o Carlos, sentiu a pressão da opinião pública e decidiu falar durante uma semana. Já chega, o silêncio é uma imagem de marca do BdP. E ser mais assertivo no combate às disrupções do sistema financeiro também devia ser. Não é,
Marcelo Rebelo de Sousa – Um ano do Presidente que é a «princesa do povo, como a princesa Diana», como vi numa reportagem do Expresso. É certo que, para mim, Belém ganhou com este ano de magistério de afectos, ternura e simpatia em comparação com a Presidência de museu de cera do seu antecessor. Porém, mais de 976 mil selfies e um excesso de declarações, a torto e a direito, muitas sem sentido e sem sentido de Estado, levam a pedir mais contenção a Marcelo. Pois já todos percebemos que o seu pecado original é a falta de momentos para respirar silêncio.
Jaime Nogueira Pinto – tornou-se notícia esta semana por patetice de umas criancinhas e cobardia de um Caramelo. O comentador estava num limbo de inexistência, do qual já ninguém se lembrava muito bem, a publicar uns livros que ninguém lê e a ser consultor de uns negócios relacionados com África. Causou ruído porque não o deixaram falar e o seu caso é uma evidência da classe com que um elefante atravessa uma loja de porcelanas. O “elefante” desta história ridícula não é o Jaime, mas sim o bando de criaturas da associação de estudantes que devia estar quieta. Sim, é tempo dos patetas se dedicarem a cultivar o silêncio.
Marques Mendes – os seus comentários não me interessam rigorosamente nada e têm para mim a credibilidade de uma ervilha. Este senhor tem um espaço que mais ninguém tem em nenhuma televisão generalista no mundo inteiro. Dizem que tem um milhão de audiências, mas, nas sondagens internas do seu partido realizadas com o seu nome para Lisboa, é barbaramente sovado por Medina e Cristas, o que prova que as pessoas não gostam dele e até o Rato Mickey teria um milhão de espectadores para o verem comentar os seus interesses pessoais. Esta semana, mais uma vez, os espectadores aguardam que ele preste esclarecimentos, e que a jornalista lhe faça perguntas, sobre o papel que teve nos vistos Gold (será ouvido por testemunho escrito em tribunal) e em empresas das quais era sócio com Miguel Macedo e outro indivíduo e que até serviços prestava a empresas de jardinagem. Se não esclarecer nada, que tenha a vergonha de se calar.

terça-feira, 7 de março de 2017

O meu nome não é Doce

Tenho aqui o meu blogue e escrevo em redes sociais desde 2009 (na imprensa escrevo desde 1995). Ontem percebi porque nunca ninguém tentou comprar um post escrito por mim. É que o meu nome do meio não é Doce.

Mais mulheres, se faz favor

Eu defendo o talento, o mérito, sou contra qualquer tipo de quotas impostas por ditame de uma qualquer lei ou regulamento. Porém, continuam a ser poucas as mulheres em diversos lugares de topo em Portugal.

Talvez sejamos, e são vários os sinais visíveis no dia-a-dia, uma sociedade conservadora, com enormes preconceitos, com uma imagem difusa e pouco dinâmica do que são as comunidades modernas e os seus movimentos sociais. Ainda muito machista por herança de um «marialvismo» bacoco que ainda alguns tendem a ostentar.

Esta semana, no Negócios, lia que das 17 empresas cotadas no PSI-20, apenas cinco têm mulheres nas suas comissões executivas. Num total de 82 gestores, só oito (10%) são do sexo feminino. São elas Cláudia Azevedo e Ivone Pinho Teixeira (Sonae), Dionizia Ferreira e Ana Maria Jordão (CTT), Maria da Conceição Lucas (BCP) Laurentina Martins e Ana Rebelo Mendonça (Altri) e Ana Paula Marques (NOS), cito-as pelo seu valor e para elogiar as empresas que não hesitam em escolher mulheres para os seus conselhos de administração.

Ontem, o Público fazia manchete com a exigência do Governo ao Banco de Portugal de integrar mais uma mulher nos seus lugares cimeiros onde, para já, só está Elisa Ferreira. Esta semana, Mónica Ferro foi escolhida, e já elogiada por Belém, Governo e todos os quadrantes políticos, para um importante cargo no Fundo das Nações Unidas para a População, depois de um meritório trabalho ao serviço da comunidade, e sem politiquices, que tem desenvolvido pelos direitos das mulheres.

Eu gosto de mulheres. Sei como a maneira delas de estar no mundo, de encarar os problemas, é diferente da dos homens. Com uma sensibilidade e um olhar que não é antagónico mas complementar. «A mulher está muito perto da Natureza, há nela os mesmos encantos e os mesmos perigos», dizia o nosso sábio, tantas vezes esquecido, Agostinho da Silva.

O mundo seria incompleto sem as mulheres. É tempo de se ousar, não sendo nenhuma ousadia, apostar mais nelas. Ainda subsiste em muitos homens aquela mentalidade do personagem anquilosado e retrógrado de Fernando Rey, no “Tristana” de Luis Buñuel, de que a mulher deve estar em casa e, de preferência, calada.

Há mulheres que, por timidez ou vontade, optam por se resguardar, algumas ainda retraídas pelo pecado original de uma sociedade dominada pelos homens. Mas não devemos cortar as asas a quem pretende voar, a quem quer mostrar o seu talento e desenvolver a sua ambição profissional. São bem-vindas e todos ganhamos com isso. Por isso, não hesitem: mais mulheres, se faz favor.