terça-feira, 6 de setembro de 2016

O Serviço Público da RTP

Eu gosto da RTP, acredito na sua responsabilidade de serviço público de televisão e desejo que o canal seja um farol ao nível da inovação, ao nível da ruptura com o politicamente correcto, que não se conforme com o "statu quo" de fazer fácil e não seja preguiçoso e se deixe levar pelo hábito e pelos preconceitos adquiridos.

Dito isto, e não particularizando todos os canais, arranca hoje uma nova fase da programação em que há uma aposta clara na produção nacional, nomeadamente, a consolidação de uma produção portuguesa de séries de ficção na RTP1. Elogiei aquando do lançamento de "Terapia" essa aposta, porque é rumar contra a maré e contra quase o direito consuetudinário de os portugueses, em canais generalistas, serem obrigados a aturar novelas atrás de novelas do "prime-time" até ao "late-night".

Claro que eu, como qualquer pessoa minimamente informada, sei que é muito difícil a RTP obter com esta aposta logo uma audiência considerável. Os consumos televisivos do grande público são conservadores e não é apenas porque surgem estas quatro séries portuguesas que eles carregam no comando e viram para o canal 1. São muitos anos, desde a influência da Globo, em que os portugueses querem ver telenovelas, estão no seu direito e as audiências assim o dizem.

Mas a RTP deve estar ao lado dos produtores nacionais, deve apoiar tanto séries como o cinema, não deve ter medo da ruptura e deve ter guiões e histórias que possam ser exportadas como outros países europeus conseguiram, por isso irei espreitar todas estas novas séries para aferir da sua qualidade e interesse. Porque há públicos que, a cada dia que passa, fogem para o Cabo e para a Netflix e não se pode perder a esperança de os tentar reconquistar.

Sem esquecer que Portugal não são os 15 mil leitores do Público, sem esquecer que a RTP não é o canal Q e não deve estar refém de humoristas, sem esquecer, e só escrevo hoje sobre a RTP1 (escreverei noutro dia sobre a 2 - e gosto da 2 - e o desastre que tem sido a RTP3 onde os critérios dos amiguinhos, os "especialistas" da tanga e sem currículo predominam, onde o politicamente correcto domina, onde ninguém percebeu o peso dos líderes de opinião das redes sociais que valem mais do que todos os comentadores que lá têm juntos, dá 7 mil espectadores por dia), que Portugal é o mesmo que vê a Volta a Portugal em Bicicleta, que vê o Jorge Gabriel e a Sónia Araújo e continua a gostar do Preço Certo.

Por isso, qualidade sim, sem qualquer dúvida, mas agregando, criando empatia com os portugueses - e bem que a RTP precisa de voltar a ter essa empatia como já teve -, fazendo uma televisão agradável e sem preconceitos. Mas a RTP - e todos os seus canais - não pode perder relevância. Esse é um desafio que não pode ser esquecido. As audiências até podem não ser grandes, mas se a RTP se tornar irrelevante isso será a morte do artista.

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