quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Análise do debate Passos vs. Costa

Para uma audiência histórica de 3,4 milhões de telespectadores, o que há a dizer é que o debate soube a pouco. O modelo de muitas interrupções e de pivots a mencionarem o tempo ainda mais contribuiu para que fosse fraco.

Passos Coelho e António Costa não são políticos carismáticos, mas entre os dois, historicamente, o líder do PS sempre teve mais capacidade de criar um golpe de asa do que o primeiro-ministro que é conhecido por ter pouco jogo de cintura e por vezes cair nas suas próprias teimosias. Costa compreende melhor a comunicação, apesar de ter errado múltiplas vezes nesta campanha, do que Passos.

No dia em que uma sondagem dava vantagem à coligação, se o debate tivesse corrido muito bem a Passos Coelho, hoje estaríamos a entrar numa dinâmica clara de vitória. Porém, o debate correu melhor a Costa. Não que tivesse brilhado, mas meteu-o em jogo e deixa esta eleição completamente empatada neste momento.

Nenhum dos blocos é senhor da agenda e ontem o "momentum" passou para o PS. Sobretudo porque encostou várias vezes às cordas o líder do PSD. Um dos melhores momentos do debate - aí está a melhor capacidade de surpreender com um golpe de asa - surgiu quando Costa sacou dos números insofismáveis do programa "Vem". Um fracasso total do Governo.

O debate teve mais passado do que futuro, teve "plafonamentos" (algo que 90 por cento dos portugueses não compreende o que é), teve muitos números e pouca política, centrou-se no Excel e pouco nas pessoas. Temas como a educação, a cultura, a investigação científica, o turismo, estes quatro fundamentais para o nosso futuro e competitividade nem foram mencionados.

Passos e Costa têm um grave problema: não geram empatia com as pessoas e ontem perderam uma oportunidade de namorarem quem pode votar neles. Li no dia antes do debate que ambos se treinaram para serem genuínos. Ninguém aprende a ser genuíno. Ou se é, ou não. Esse é o ponto fraco da grande maioria da classe política actual: são quase todos iguais, ordeiros, politicamente correctos, mais figuras da Madame Tussaud do que gente que sofre e conhece os problemas da gente. O país da política não é o país real.  

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