quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Eu não quero aqui "Gomorra"

É conhecido que muitas cidades se batem por ser o palco de telenovelas, séries e filmes, tentam sensibilizar produtores e, por vezes, chegam a pagar por isso. É uma forma das mesmas chegarem ao público, promoverem as suas mais valias, os seus monumentos e paisagens.

Curiosamente, em Itália, com um caso, sucede o contrário. "Gomorra", inspirada no livro com o mesmo nome de Roberto Saviano, é uma brilhante série de televisão - passou a primeira temporada na RTP2 - mas por ser realisticamente nua e crua, violenta e com assassinatos, com tráfico de droga, retratando a acção de grupos mafiosos na zona de Nápoles, agora, muitas cidades tentam bloquear a rodagem nas suas localidades.

Assim, os presidentes de câmara de Giugliano, Acerra e Alfragola não querem nas suas terras "Gomorra". Ser promovido pelo bem é o objectivo de todos, agora, cidades ganharem a reputação de insegurança ninguém quer. E a reputação é o mais importante numa marca.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

A indecisão aumenta à beira das eleições

Não é habitual, aliás, bem pelo contrário. Uma corrida eleitoral serve para fortalecer e dar confiança aos que acreditam numa via e convencer e cativar os indecisos e abstencionistas, mas, nesta última semana de campanha, o que revelam alguns estudos e se sente junto das pessoas é que aumentaram os indecisos.

Esta indefinição tem diversas variáveis. Os líderes que não convencem, uma desconfiança generalizada no discurso e promessas da classe política, uma campanha aborrecida, sem novidades e sem se adaptar aos novos tempos, ou alheamento global dos portugueses.

Sinceramente, julgo que sem maioria clara viveremos um impasse, entraremos num lodo de indecisão política e o País estará muito tempo sem carburar pois demorarão muito tempo negociações para que seja viável um novo Governo. A campanha não foi motivadora, é uma realidade, mas o dia de amanhã será muito confuso e pouco tranquilo. Para todos os portugueses.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A Volkswagen e o "Made in Germany"

Há pouco tempo o grupo alemão Volkswagen tornou-se o maior vendedor de automóveis do mundo, suplantando a Toyota. Emprega directamente 600 mil pessoas e era um dos rostos da fiabilidade da engenharia alemã.

Em poucos dias a sua reputação ficou arrasada por ter enganado as autoridades de ambiente americanas. Depois vieram as demissões do CEO, que nada sabia do assunto mas assumiu a sua responsabilidade "política", e a escolha de um sucessor, oriundo da Porsche.

O caso é traumático para a indústria automóvel, pois agora as pessoas não sabem com absoluta confiança se todas as marcas dão garantias de serem seguras nos diversos testes que apresentam e que servem de garantia para os compradores.

Mas acima de tudo, e como bem escrevia o El Pais no seu suplemento de economia deste domingo, é um trauma maior para o "Made in Germany", um selo de qualidade de toda a sua produção em diversas áreas.

São diversas as fraudes que marcas alemãs cometeram, e que o diário espanhol recorda: para lá da Volkswagen, a Siemens, a MAN, o Deutsche Bank e o Commerzbank tiveram de pagar multas de milhares de milhões por diversas infracções nos seus procedimentos.

A fiabilidade da engenharia alemã e do "Made in Germany" já não é o que era.

domingo, 27 de setembro de 2015

Sugestões para a semana

Livros

"O Selvagem da Ópera", Rubem Fonseca, Sextante, 285 páginas. Este brasileiro é para mim um dos melhores escritores de língua portuguesa. Estilo desabrido, realista, aqui sobre o compositor António Carlos Gomes, a glória e a tragédia num estilo inconfundível.

"Estação Onze", Emily St. John Mandel, Presença, 334 páginas. Este livro é belíssimo, vencedor do prémio Arthur C. Clarke, um romance pós-apocalíptico onde um pequeno grupo se dedica a representar peças de Shakespeare para os sobreviventes dispersos depois de uma pandemia de gripe.


Cinema

Recomendo a compra de uma caixa com 5 filmes negros das idas décadas de 40 e 50 de Hollywood. Entre eles estão "Gun Crazy" (Mortalmente Perigosa) de Joseph H. Lewis, "Lady in the Lake", de Robert Montgomery e os 3 extraordinários "Night and the City" de Jules Dassin, "Ministry of fear", de fritz Lang e "Pãnico nas Ruas" de Elia Kazan.

Séries

Esta semana os principais regressos são as segundas temporadas de Gotham e Empire, eu gosto especialmente da segunda, uma guerra familiar tendo como fundo um império musical

Documentários

No Arte, hoje às 21.40, "Made in Italy", a história de Itália dos anos 50 até à actualidade tendo como fio condutor a moda. Amanhã, às 21.35 "Orson Welles - Autópsia de uma Lenda", sobre o genial criador americano que era muito mais do que um homem do cinema.

Bar

Assinalo o novo bar do Hernâni Miguel, lenda dos grandes tempos do Bairro Alto (outros tempos), chama-se O Tabernáculo e é na Rua de São Paulo, mesmo ao lado do elevador da Bica. Grande espaço, bem decorado, para conversar, com a sonoridade de soul, jazz, blues e funky como fundo. Lá dentro um espaço exclusivo da Bacalhôa, garantia de grandes vinhos.

Restaurante

Quando quiserem jantar comida caseira, rodeados de antiguidades, podem ir ao restaurante "Arco da Velha". Ambiente acolhedor e serviço simpático. Na rua de São paulo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Dignidade ou a carta final

João figueiredo foi o último presidente da ditadura brasileira. O que passou o poder para Tancredo Neves. Mas o homem de Belo Horizonte morreu e foi o seu vice, José Sarney, que se tornou o primeiro presidente da democracia brasileira.

Por achar Sarney um traidor, ele que sempre alinhou com o Arena (o partido da ditadura), João figueiredo não chegou a ler o discurso simples, digno, que tinha previsto realizar para uma transição tranquila e nem esteve presente na cerimónia. Passados estes 30 anos, a Veja reproduziu essas palavras depois de serem finalmente encontradas.

«Trago a consciência tranquila e o ânimo sereno de quem sabe que cumpriu o seu dever e saldou os compromissos assumidos consigo mesmo e com a Nação.

Senhor Tancredo Neves, é com satisfação que passo às suas mãos a Presidência da República. Está Vossa Excelência altamente credenciado para o cargo, por suas qualidades intelectuais e morais, seu equilíbrio, seu espírito público.

Conta Vossa Excelência com beneplácito popular. A minha simpatia o acompanha, com os votos do maior êxito na missão que o Brasil lhe confiou.

Presidente Tancredo Neves, confio em sua vontade de servir. Que Deus o ajude».

Uma saída simples, digna, pacífica, do último ditador brasileiro. Palavras sinceras para aqueles novos tempos. Por vezes sente-se a falta da "gravitas" na política actual, este é um bom exemplo de quem menos se esperava.  

terça-feira, 22 de setembro de 2015

As sondagens que não valem nada

Já vos escrevi que sou um céptico com as sondagens publicadas antes de eleições. Tenho experiências pessoais, de diversas campanhas onde estive envolvido, em que os resultados são obtidos de maneira pouco fiável e não correspondem à realidade.

Aliás, nesta altura ir atrás, dentro da margem de erro, como acontece com o PS não é nada mau. O que é mau é o PS não estar claramente no topo como os socialistas ansiavam quando aconteceu o golpe palaciano que derrubou António José Seguro.

Mas a nota mais saliente de todas as sondagens: o PS mantém-se à frente no eleitorado com mais de 55 anos. O que habitualmente mais participa em eleições e não fica em casa. De resto, vão por mim, estas sondagens não valem nada, como tem sido provado por cá e em muitos outros países.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Ser famoso é uma merda

«As figuras públicas têm de ser especialmente cautelosas. (...) Se revelar um segredo vergonhoso a quem quer que seja corro o risco de exposição, censura, chacota. Toda a gente devia saber isto acerca da fama antes de começar a persegui-la: nunca mais confiarás em ninguém. Serás uma espécie de maldito, não só porque não podes confiar em ninguém mas, pior ainda, porque tens de estar sempre a avaliar até que ponto és importante, mediático, e isso aliena-te de ti próprio e envenena-te a alma. Ser famoso é uma merda. E no entanto todos querem ser famosos, agora todo o mundo é feito disso, desse desejo de ser famoso.»

Jonathan franzen, "Purity" (editora D. Quixote). Recomendo, é um dos melhores livros de 2015.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Uma campanha às costas de Portas

Na última semana, depois da derrota de Passos Coelho no debate, a parte mais engraçada desta campanha eleitoral tem sido o PSD a ser levado às costas por Paulo Portas, que é o melhor "campaigner", que, apesar de errar às vezes, tem a noção clara do soundbyte e do que passa bem na televisão - e é ali que se ganham eleições - que, como os treinadores de clubes pequenos que têm liderança e personalidade para comandar clubes grandes, está no partido errado desde que em jovem abandonou a JSD. Até ao termo da campanha, vai ser assim. Portas será a locomotiva eleitoral da coligação.

domingo, 13 de setembro de 2015

Sugestões para a semana

Livros

"Purity", Jonathan Franzen, D. Quixote, 694 páginas. O regresso do escritor que fez capa da Time que o considerou o melhor dos romancistas americanos contemporâneos. Depois dos soberbos "Correcções" e "Liberdade" este será um dos livros do ano.

"História de Espanha", Julian Valdeón e outros, Edições 70, 561 pág. Uma edição velhinha de um catálogo que praticamente desapareceu. A história dos nossos vizinhos, dos Visigodos à ditadura, importante conhecer as diferenças.

Cinema

Em casa no próximo sábado a RTP2, às 22.40h, passa o belíssimo "Stromboli" de Roberto Rosselini, aqui numa fase de paixão pela sua mulher Ingrid Bergman que reluz nesta brutal película de sentimentos e emoções.
No mesmo dia, no TVC1, 21.30h, não percam a oportunidade de ver um dos melhores filmes americanos do passado, e por ser muito bom praticamente passou despercebido nos Óscares, "Nightcrawler", de Dan Gilroy, com um magistral Jake Gyllenhaal que se alimenta do nosso "voyeurismo" pelo jornalismo criminal.

Séries

A principal estreia desta semana é "Uma Morte Súbita", no TVSeries, quarta às 22.30h, que se baseia no livro de J. K. Rowling

Documentário

No Arte no "Thema" de terça às 19.50h, "A Dívida, uma Espiral Infernal?", sobre a história da dívida que limita países e povos.

Música 

Recomendo o primeiro disco dos portugueses Fandango. Que são Luis Varatojo e Gabriel Gomes, com anos e anos de música noutros projectos, mas que agora criaram uma electrónica com sonoridade portuguesa, nomeadamente com a guitarra que tem um som inconfundível. Vi-os no Lisb//On ao vivo e o cd é de comprar.

Revista

Uma daquelas revistas para comprar e guardar, a edição de Setembro da "Grands Reportages - Hors Série" é dedicada às "Voyages Extraordinaires en Train". Viagens de comboio pela Austrália, Teerão-Istambul, México, Sri Lanka, entre várias outras. Imagens e histórias belíssimas.

Restaurante

Descobri por mão amiga um restaurante cabo-verdiano, chama-se Tambarina. Os preços são quase dados e é excelente. Ali comi na terça a melhor cachupa dos últimos anos. Perto de Santos e da calçada do Combro.. 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Análise do debate Passos vs. Costa

Para uma audiência histórica de 3,4 milhões de telespectadores, o que há a dizer é que o debate soube a pouco. O modelo de muitas interrupções e de pivots a mencionarem o tempo ainda mais contribuiu para que fosse fraco.

Passos Coelho e António Costa não são políticos carismáticos, mas entre os dois, historicamente, o líder do PS sempre teve mais capacidade de criar um golpe de asa do que o primeiro-ministro que é conhecido por ter pouco jogo de cintura e por vezes cair nas suas próprias teimosias. Costa compreende melhor a comunicação, apesar de ter errado múltiplas vezes nesta campanha, do que Passos.

No dia em que uma sondagem dava vantagem à coligação, se o debate tivesse corrido muito bem a Passos Coelho, hoje estaríamos a entrar numa dinâmica clara de vitória. Porém, o debate correu melhor a Costa. Não que tivesse brilhado, mas meteu-o em jogo e deixa esta eleição completamente empatada neste momento.

Nenhum dos blocos é senhor da agenda e ontem o "momentum" passou para o PS. Sobretudo porque encostou várias vezes às cordas o líder do PSD. Um dos melhores momentos do debate - aí está a melhor capacidade de surpreender com um golpe de asa - surgiu quando Costa sacou dos números insofismáveis do programa "Vem". Um fracasso total do Governo.

O debate teve mais passado do que futuro, teve "plafonamentos" (algo que 90 por cento dos portugueses não compreende o que é), teve muitos números e pouca política, centrou-se no Excel e pouco nas pessoas. Temas como a educação, a cultura, a investigação científica, o turismo, estes quatro fundamentais para o nosso futuro e competitividade nem foram mencionados.

Passos e Costa têm um grave problema: não geram empatia com as pessoas e ontem perderam uma oportunidade de namorarem quem pode votar neles. Li no dia antes do debate que ambos se treinaram para serem genuínos. Ninguém aprende a ser genuíno. Ou se é, ou não. Esse é o ponto fraco da grande maioria da classe política actual: são quase todos iguais, ordeiros, politicamente correctos, mais figuras da Madame Tussaud do que gente que sofre e conhece os problemas da gente. O país da política não é o país real.  

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O que deve marcar o debate de hoje

O que irá marcar o debate de 90 minutos, de hoje, entre Pedro Passos Coelho e António Costa, indubitavelmente, será o caso Sócrates. Mas não devia.

É certo que se tem de falar dele porque é marcante. Não só o caso em si mas também a sua anterior governação. Será um contraponto à governação da coligação, mas há outros temas que devem estar em cima da mesa.

Há duas preocupações principais das pessoas: impostos/austeridade e o emprego. Aqui tem de haver clareza nas propostas e não combate de números que não é isso que interessa minimamente.

Depois, há mais duas que me parecem capazes de acentuar clivagens: o futuro do Serviço Nacional de Saúde e se há futuro para o que descontamos para a Segurança Social.

Estes são os temas que verdadeiramente interessam às pessoas. Tudo o resto são questões de retórica política, de momento e agenda. Não o tornem uma conversa de politiquice, pensem no futuro de Portugal e transmitam esperança.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

"Show me a Hero"

Ao ver o primeiro episódio de "Show me a Hero", produção da HBO que passa no TVSéries, senti o regressar da grande televisão. Ou melhor, do grande cinema que passou para televisão já lá vão uns bons anos.

O criador David Simon já tinha escrito uma das melhores séries de sempre: "The Wire", depois andou pela reconstrução de New Orleans na muito musical "Treme" e, juntamente com Paul Haggis (premiado pelo razoável "Crash" quando devia ter sido premiado por "No Vale de Elah") na realização, traz agora uma mini-série de 6 horas retratando um caso real em Yonkers.

Diálogos bem urdidos, personagens bem trabalhadas, como em todas as suas séries em que cada personagem é uma história, teia política bem tecida, realização impecável, actores de luxo. Vejam e guardem na memória estas seis horas.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A queda das gravatas

Tsipras e Varoufakis foram as faces maiores da queda das gravatas. Por sinal, e agora que estão prestes a acontecer as eleições gregas, também o líder da Nova Democracia, Evangelos Meimarakis, abdicou delas.

É uma imagem mais informal e de proximidade com as pessoas que procuram, não só eles mas outros líderes no mundo e em Espanha isso já há muito que acontecia. Aliás, na revista de domingo do El Pais, vinha um excelente artigo sobre esta evolução, tal como nos anos 60 do século passado John Kennedy abdicou dos chapéus.

Até porque como dizia Gianni Versace, a gravata «já não é sinal de distinção porque até os bandidos a usam».

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O valor da independência no comentário

Porque será que as pessoas, entre outros, gostam há tantos anos de ler Miguel Sousa Tavares no Expresso ou Vasco Pulido Valente no Público? Porque são independentes, dizem o que pensam, não são mandatados por ninguém.

Num mundo onde grassa a irracionalidade, onde qualquer idiota sem currículo nem conhecimento de nada tem contas nas redes sociais e expressa a sua opinião, onde cada vez mais organizações tentam manietar e manipular a opinião pública através de quem emite opinião, é bom que os media tradicionais continuem a saber valorizar a independência e não cedam a pressões das mesmas.

Ser independente reforça a liberdade de expressão e defende uma sociedade democrática, onde o bom senso e a razão devem imperar. A função de "gate-keeper" dos media não pode desaparecer e os editores devem ter consciência que as audiências não valem tudo. O tempo também ajuda a separar o trigo do joio.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Uma história de futebol depois da loucura do fecho do mercado

Terminou ontem em Portugal o mercado de transferências. Outros mercados ainda estão abertos. O inglês que fecha às 18h gastou mais de mil milhões em jogadores, destaco como a loucura chegou ao ponto do Manchester United dar 80 milhões por um projecto de jogador chamado Martial e que vem do Mónaco.

Com esta loucura latente, e que parece não afligir um mundo em crise em que muitos que pagam e fazem as audiências desta indústria vivem no limiar da pobreza, prefiro contar a história de um jogador que já teve grandes palcos e que agora no ocaso da sua carreira volta à sua terra que tem um campeonato a quem ninguém liga.

O Público chamou-lhe, lá para meados de Agosto, «o extremo solidário que joga por amor à camisola». Damien Duff (lembram-se do canhoto que foi campeão pelo Chelsea?) voltou com 36 anos à sua Irlanda natal para jogar pelo Shamrock Rovers. O seu salário reverterá para um hospital pediátrico que apoia crianças com problemas cardíacos congénitos.

Quando regressou disse apenas: «não quero dinheiro, apenas jogar futebol. Cada cêntimo irá para a caridade. Quero fazer o bem». Que o mundo do futebol ponha cada vez mais de lado a irracionalidade e olhe para o que interessa.