segunda-feira, 31 de agosto de 2015

«Ser melhor pai»

O título do meu post está entre aspas porque alguém disse esta frase. Não podia ser eu a dizê-la, porque não tenho filhos. Li-a ontem na entrevista/perfil a Mark Ruffalo que vinha na revista do El Pais.

O actor, que está num grande momento da sua carreira, que superou um tumor cerebral benigno que o tirou dos grandes écrans durante oito anos, apresenta-a como seu objectivo principal, essa é a sua «obsessão» e não prémios de carreira.

Para mim, ao longo dos anos, o fim de Agosto representa um novo ciclo. É quase como se começasse verdadeiramente o novo ano. E no meio de tantas trapalhadas que nos tiram tempo e não interessam nada para a nossa vida e felicidade. Tantas discussões estéreis, tantos assuntos que são apenas espuma dos dias, tantas vírgulas que nos desfocam do essencial.

Cada um tem os seus objectivos, mas há coisas muito mais importantes que o dinheiro ou a carreira. «Ser melhor pai» ou ser feliz, por exemplo.

domingo, 30 de agosto de 2015

Sugestões para a semana

Livros

"Histórias de Nova Iorque", Enric Gonzalez, Tinta da China, 165 páginas. Já tinha recomendado, desta excelente colecção organizada pelo Carlos Vaz Marques, dois outros títulos do mesmo autor. As suas histórias de Londres e de Roma. Jornalista que se integra na cidade que o acolhe, que conta a sua vida, mas, sobretudo, conta a história da cidade e dos seus movimentos.

"furacão Elis", Regina Echeverria, Globo, 235 páginas. Não é uma edição portuguesa, mas podem adquirir no Centro Cultural Brasileiro ou na livraria do Saldanha Residence. A vida de uma das maiores vozes da música brasileira, Elis Regina, uma história com depoimentos de amigos e amantes, cantores e maridos. Partiu cedo quando tanto teria para dar.

"A Verdade e Outras Mentiras", Sascha Arango, Presença, 222 páginas. Comecei ontem a ler, de rajada foram 170 páginas, excelente história, um thriller muito bem escrito com excelentes diálogos e com humor negro a cada canto da prosa.

Cinema

Na televisão chamo a atenção para "Phoenix", Christian Petzold, um dos melhores de 2015, e que anteriormente tinha realizado o excelente "Barbara", com a mesma protagonista, Nina Hoss. Quarta, TVC2, 17.35h
No sábado, na RTP2, 22,55h, o primeiro da trilogia de Roberto Rosselini, "Roma, Cidade Aberta", uma das suas obras-primas.
Nas salas, para quem nunca viu, descubram no Nimas uma revisitação da obra de Jacques Tati

Séries

As principais estreias da semana surgem no TVSeries, "Show me a hero" e "Ballers"

Revista

Recomendo a edição especial da francesa "L`Express" sobre Hugo Pratt. As suas influências e origens do criador de Corto Maltese

Restaurante

Em Lisboa o sushi que eu mais frequento, esta semana duas vezes, e recomendo, não só pela qualidade mas também pelo ambiente, é o Sushi Café na Barata Salgueiro. Experimentem o tártaro de salmão para entrada. 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Até o mais famoso relógio do mundo perdeu a exactidão

Podia ser uma metáfora do mundo moderno, onde a multiplicidade de palcos proporcionou visibilidade até a loucos, onde se democratizou a opinião, mas se perderam os gate-keepers que a enquadravam, credibilizavam e responsabilizavam e, acima de tudo, o ciclo das notícias é mais curto e menos correcto e exacto.

O mais famoso relógio do mundo, o Big Ben, em Londres, adiantou-se seis segundos. «Durante 15 dias, o Big Ben deu a hora errada, interrompendo as emissões radiofónicas da BBC e BBC World Service, que utilizam o som do seu badalo em directo» (noticia o Público).

Um relógio, para lá da beleza que se pode retirar do seu uso, é um sinal de ordem. São os ponteiros ou os números que nos trazem a cadência da nossa vida, que nos balizam o tempo, algo de cada vez mais precioso. Mas até o Big Ben perdeu a exactidão, tal como o mundo moderno.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A Coca Cola na China

Há pouco tempo estive num almoço com o embaixador da China. Ali, ele dizia que o mercado chinês continuava atractivo para investir porque o mercado interno tem uma tendência natural de crescimento. E há enormes potencialidades em diversos sectores.

Apesar das recentes notícias de crises, ainda hoje mais uma, na bolsa de Xangai, o que é verdade é que o mercado chinês, pelo seu volume, é uma das geografias onde as grandes empresas têm de estar e sem complexos sobre um regime que não é democrático e é controlado por um capitalismo de Estado dominado pelo partido Comunista.

Ontem lia no El Pais que a Coca Cola vai investir 3510 milhões de euros na China nos próximos três anos, sem temor dos mercados bolsistas nem das ameaças de travagem no crescimento da sua economia. A companhia de bebidas mais conhecida do mundo já investiu mais 8 mil milhões desde 1979 e considera um mercado fundamental para o seu crescimento.

Deng Xiaoping foi o arquitecto da revolução da economia de mercado no Império do Meio, construiu as Zonas Económicas Exclusivas, onde paulatinamente experimentou a introdução do capitalismo. Percebendo que o poder da China poderia ser construído na economia e não pela via ideológica ou militar.

Deng dizia, para explicar a sua opção estratégica, que «não interessa se o gato é branco ou preto desde que cace ratos». As grandes multinacionais nos seus negócios e na busca do lucro, que é para isso que existem, nunca olharam também à cor do gato. O mercado e o seu volume são o seu objectivo e o seu futuro. A China está ali à mão.  

domingo, 23 de agosto de 2015

O dinheiro não tem religião

Uma das notícias mais engraçadas que li ontem vinha no Público. Lá rezava que a S&P Dow Jones ia lançar um índice bolsista com "valores católicos" que «respeitem as regras de investimento socialmente responsáveis traçadas pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos»

Assim, todas as empresas «que tenham actividades ligadas à produção de armas químicas, a programas eróticos ou pornográficos, ao fabrico de material militar, à pesquisa de células estaminais ou que recorram à mão-de-obra infantil.», serão excluídas deste indicador de valor das empresas.

O problema desta criação é que o dinheiro não tem sexo, cor, cheiro ou religião e apesar da responsabilidade social das empresas ter vindo a crescer ao longo do tempo, superando a mera caridadezinha para lavar a imagem, o objectivo das empresas é o lucro e não alcançar, numa vida posterior, o Reino dos Céus.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O objectivo central das Relações Públicas

Às vezes na comunicação esquece-se o básico:

«O objectivo central das relações públicas é criar e desenvolver palcos (mediáticos ou não), isto é, locais, momentos, conceitos, oportunidades que nos ajudem a transformar a ignorância em conhecimento, a apatia em interesse, o preconceito em aceitação, a hostilidade em compreensão»

Luis Paixão Martins, na introdução de "A Queda da Publicidade e a Ascensão das Relações Públicas", de Laura Ries e Al Ries

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O que têm Hillary e Dilma em comum

Hillary Clinton e Dilma Rousseff têm em comum duas coisas: ambição, muita ambição, e resiliência. Resistem a tudo, até à nova coisa que ambas têm em comum: o povo não gosta delas.

No caso de Hillary, a sua inteligência foi catapultada para conquistar o poder. Primeiro, através do marido, depois para ela. Na primeira tentativa fracassou, agora tinha tudo, até terreno livre, para impor a sua ambição. Mas um apagado  e autodenominado "socialista", Bernie Sanders, já a ultrapassa, e com distância, em alguns estados-chave para ganhar a corrida eleitoral Democrata  O cenário é tão grave, que outros tubarões, que achavam não ter hipóteses, como Joe Biden ou Al Gore pensam entrar na campanha.

Dilma ganhou duas eleições mas nunca foi muito popular. O afecto dos brasileiros era com Lula, ela era apenas a criatura ungida pelo ex-presidente. Mas teve a ambição e a resiliência de ganhar e agora manter-se no poder com meio Brasil a pedir o "impeachment".

Ambas, nunca estiveram no coração do seu povo. E é difícil um político manter-se no poder ou conquistá-lo sem a admiração dos seus.

domingo, 16 de agosto de 2015

Sugestões para a semana

Livros

Trilogia do Cairo ("Entre Dois Palácios", "O Palácio do Desejo", "O Açucareiro"), Naguib Mahfouz, Civilização Editora. Recomendo vivamente as três obras mais marcantes, mas podia recomendar outros do Nobel da literatura egípcio, como por exemplo "O Cairo Novo", que li há poucas semanas. Magistral escrita, o conservadorismo da sua sociedade e o choque com o progresso. Personagens inesquecíveis e a magia daquele Cairo do início do século XX.

"A História Secreta da Gestapo", Jean Dumont, Saída de Emergência, 876 páginas. Obra recentemente lançada, a história da polícia secreta do Terceiro Reich, o seu poder, os seus métodos, a sua evolução. Um livro importante e de rigor histórico sobre um tempo que convém nunca esquecer, para nunca mais voltar.

Cinema

Em casa recomendo hoje no TVC2, às 22h, o considerado nas últimas listas como o melhor filme de sempre, ultrapassando "Citizen Kane", de Orson Welles, "Vertigo - A mulher que viveu duas vezes". Uma obra-prima de Hitchcock com James Stewart e a inesquecível Kim Novak.
Na terça, também ás 22h e no TVC2, "As Asas do Vento", a despedida do mestre japonês Hayao Miyazaki. que com o seu desenho aborda a história do homem que desenhou os caças japoneses da II Guerra Mundial.

Séries

Numa altura de defeso, salientar na terça o último episódio da quarta temporada de Scandal (cada vez mais uma novela) na fox Life, a exibição de uma verdadeira série de acção, na sua última temporada, Strike Back, no TVS e aguardo para a semana a estreia da terceira temporada de uma série muito simpática, "Mr. Selfridge".

Documentário

Na terça recomendo um documentário, que são três episódios de seguida, que já passou no ARTE e agora repete, "China - O Novo Império", sobre a história política contemporânea do Grande Império, da vitória de Mao aos nossos dias e que ajuda a compreender este capitalismo de estado vermelho que ali vigora.

Restaurante

A Camponesa, em Santa Catarina. Ainda ontem lá jantei, boa cozinha, bom ambiente, boa garrafeira e sugiro que deixem o dono do restaurante surpreendê-los.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

As marcas pessoais de Passos e Costa

Ontem o Diário de Notícias publicou uma peça sobre comunicação política, onde pediram a minha opinião, e em que se abordava o momento da campanha eleitoral e a opção do PS por utilizar nos outdoors António Costa, enquanto para já a coligação ainda não usou a imagem de Pedro Passos Coelho.

Essas opções passam exactamente pela envolvência táctica do momento, mas também pelas marcas pessoais dos líderes. Recordo que ainda não entrámos na fase oficial da campanha, mas o PS já colocou quatro outdoors. O primeiro de fundo branco com Costa, um segundo que lembrava uma peça de comunicação de uma igreja evangélica, outra com um storytelling confuso e que deu problemas e o actual, outra vez, com a imagem de António Costa.

O líder do PS já apareceu duas vezes, e esta última, sóbria e clássica, surge como "damage control" do turbilhão das trapalhadas anteriores e visa acalmar a imagem pública do maior partido da oposição, utilizando o seu maior trunfo.

É que, a meu ver, a marca pessoal de Costa é mais forte do que a marca PS. Marca do partido, essa, que a coligação visa colar a Sócrates e a uma governação anterior pouco rigorosa nas contas públicas e que levou às medidas de austeridade extrema que teve de tomar. É esta a narrativa, até final de campanha, que PSD e CDS contarão ao eleitorado.

Por seu lado, até agora, a coligação ainda não jogou com a imagem de Passos Coelho. Por dois motivos. Primeiro, porque, para já, ainda não precisou. Segundo, porque evita o desgaste da imagem do líder na percepção dos portugueses que, na sua maioria, ainda estão aborrecidos e sentiram na pele a dor das medidas muito duras que o Governo tomou. E, por isso, têm optado por mensagens de uma série de medidas que consideraram positivas para os portugueses

No entanto, como disse ao DN, mais para a recta final da campanha Pedro Passos Coelho surgirá em outdoors. Porque, apesar de no subliminar das pessoas a sua imagem estar cansada e não haver uma relação de empatia com os portugueses, a narrativa da coligação tentará mostrar que, apesar de tudo, votar em Passos é o certo, votar PS é o incerto.

Com Passos, apesar de todas as dificuldades, os portugueses já sabem o que a casa gasta e já lhe conhecem o estilo e o rumo, com Costa estarão perante uma opção que poderá representar o incerto e um retrocesso. É contra isso que Costa terá de combater.

E a entrevista que já hoje dá à Visão, com um pedido de desculpas aos portugueses pela fase negativa da campanha e a mostrar que está de regresso ao leme e ao comando da agenda é um bom sinal de recuperação. E Costa é um bom "campaigner", que ninguém tenha dúvidas disso.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A palavra-chave para ganhar as legislativas em 2015

Ontem terminei o meu post assim: «E ainda não descobriram a palavra-chave para ganhar estas eleições. Isso deixo para amanhã». Referia-me ao PS, mas acrescento também a coligação.

A coligação PSD/CDS tem um candidato a primeiro-ministro que aborreceu os portugueses, em muitos momentos querendo seguir o estilo Cavaco Silva mostrou um rumo inflexível, tem pouco jogo de cintura, às vezes parece um "robot" e afastou-se das pessoas que se sentiram martirizadas pelas directivas da troika e que o Governo implementou a doer. Muitos foram os sacrifícios mas ainda ninguém vê o oásis.

O PS tem de mostrar rigor, mas tem de ganhar confiança dos portugueses que ainda não acreditam em António Costa. Em virtude do que os portugueses passaram nos últimos quatro anos, seria normal que o maior partido da oposição galgasse a onda do descontentamento e surgisse poderoso nas sondagens. Assim não acontece. Não se sente a máquina do PS, Costa está de férias, trapalhadas com outdoors marcaram a campanha. Para se mudar, é preciso que valha a pena.

É nesta equação, para ambos os blocos, que a palavra-chave para esta eleição é Esperança. Uma palavra de quatro sílabas, grande para os cânones da publicidade e do marketing, mas quente de emoção, que cria empatia, uma palavra de futuro e não de presente e passado.

Estas eleições continuam marcadas pelo presente e passado, quando o amanhã é muito mais importante. Os portugueses precisam de, pelo menos subliminarmente, acreditar que os seus sacrifícios serviram para um amanhã melhor, para um modelo alternativo que nos deixe respirar, nos deixe crescer, nos crie condições para sermos mais felizes. Portugal precisa de Esperança. Aprendam a usá-la. 

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A crise dos outdoors no PS e a perda do "momentum"

Quando o Jornal de Notícias quis saber a minha opinião, na sexta, sobre o que se passava na campanha do PS, comecei assim: «acho estranho o que se passa. António Costa é um político talentoso, o director de campanha, Ascenso Simões, é um homem experiente e inteligente e Edson Athayde já deu outras vitórias ao PS. Mas todo este talento junto tem levado ao desastre».

Há uma regra base de uma campanha política: não cometer erros. Nesta campanha do PS, os sucessivos erros relacionados com outdoors levaram a que as atenções das pessoas fossem desviadas do que deve ser o debate político e criou-se a percepção que o PS estava a passar por dificuldades. Por causa dos disparates com um outdoor que parecia de uma igreja evangélica e depois com outro em que o storytelling estava errado e precisou de justificações, o que o levou a perder eficácia.

Assim, e sabendo que nenhum outdoor vence eleições, os erros acumulados desviaram o foco do que devia ser a campanha socialista. O PS em vez de estar ao ataque contra um Governo que aborreceu os portugueses, está à defesa por causa de peças de comunicação política que são os outdoors.

O PS que precisa de uma onda de entusiasmo para efectuar a mudança, viu-se entorpecido e atolado nas suas debilidades de campanha. Agora, pode dar-se a volta, mas para voltar a ganhar o "momentum" tem de se ultrapassar o "damage control" e entrar numa velocidade "warp" de campanha e a altura não é a ideal.

Mas há outra ilação que se pode tirar. O PS ainda não percebeu o efeito das redes sociais. Há uns anos atrás, se estes erros não surgissem nos media tradicionais, poucos reparariam neles, ainda por cima no mês de Agosto. Mas estamos no século XXI, a comunicação mudou, e a comunicação política tem de se adaptar.

Nesta crise dos outdoors, mais uma vez foram as redes sociais que a exploraram, gozaram, criando um facto político que os media tradicionais tiveram de seguir, enquanto o PS demorava a reagir, perdendo por completo esta batalha no facebook e twitter onde existem poderosos influenciadores independentes (e não só) que chegam a qualquer pessoa com um smartphone ou I-Pad que esteja na praia, em férias, e que apanharam como grande evento político do ano uma sucessão de disparatados outdoors.

O PS já pediu desculpas públicas, o que é bom. Já mudou de director de campanha, não sei se é bom ou se é mau. Já meteu um novo outdoor, tradicional, sóbrio, apoiando-se na imagem de António Costa. Mas falta conquistar a empatia das pessoas, falta rua, faltam ideias, ninguém sente uma onda PS como nos tempos em que Jorge Coelho mobilizava a máquina partidária. E ainda não descobriram a palavra-chave para ganhar estas eleições. Isso deixo para amanhã.  

domingo, 9 de agosto de 2015

Eu gosto da Mariana Mortágua e o sistema eleitoral

Vou deixar a análise ao momento da campanha do PS para amanhã aqui no blog, apesar de já ter dito umas coisas para a edição de ontem do Jornal de Notícias. Hoje quero escrever sobre a falácia do nosso sistema eleitoral que há muito já devia ter sido mudado para aproximar os eleitores dos eleitos e para responsabilizar claramente quem escolhemos com o nosso voto.

Todos sabemos que quando acontecem eleições legislativas a tendência das pessoas é escolher sobre o melhor candidato a Primeiro-Ministro. Normal, mas não devia ser assim. Para melhorar a qualidade da democracia, devíamos saber na plenitude qual a pessoa que estamos a escolher, conhecê-la claramente para, depois, nos representar e exigirmos a sua resposta e responsabilização.

Exemplo: uma pessoa que mora em Braga elege os deputados do seu circulo eleitoral. Mas sabem os bracarenses, entre os escolhidos pelos diretórios partidários dos seus funcionários, quotas e amigos, quem são os seus representantes? Comunicam com eles? Pedem-lhes satisfações? Não. E enquanto esse afastamento perdurar, a qualidade da nossa democracia e a qualidade da nossa classe política não melhorará.

Eu sou de Lisboa, independente, nunca militei em nenhum partido, apesar de já ter trabalhado com vários e não só portugueses. Sou um daqueles eleitores esclarecidos, daqueles que não interessam muito aos partidos porque não sou manipulável, como irei votar?

Nesta altura do campeonato tenho de confessar que ainda não sei. A coligação durante quatro anos violentou e aborreceu os portugueses, massacrou empresários e a classe média, roubou reformados e pensionistas. O PS, que neste momento devia estar a navegar numa onda de optimismo e de esperança na mudança, está atolado no pesadelo do prisioneiro 44, não encanta ninguém e parece que desaprendeu tudo o que deve ser uma campanha de sucesso.

Não tenho nada a ver com o Bloco de Esquerda, nunca gostei do proselitismo de Louçã nem do histrionismo de Catarina Martins, que em termos de voz é a Cristina ferreira da política portuguesa (o que não é nada bom).

Mas gosto muito da Mariana Mortágua, já gostava dela e chamei a atenção para ela, basta ver no meu twitter, muito antes de se ter tornado uma estrela com a CPI do BES, porque tenho anos de comunicação política e alguns anos (já lá vão muitos e às vezes com saudades dessa bela profissão) enquanto jornalista a passar muitos dias no Parlamento. Quem por lá passou sente sempre melhor quem é bom.

Ela é uma política que faz falta. É uma miúda que é uma esperança. Mas é honesta, gosta de Portugal (e o patriotismo não é apenas um valor da direita), está bem preparada, é estudiosa, não tem pudor de cair em cima dos Salgados, Zeinais e outros que tais. O que seria dela se estivesse num partido grande?

Os candidatos que encabeçam a lista por Lisboa são, entre outros: Passos, Costa, Jerónimo, Mariana. Quem é que um cidadão de Lisboa acha que o pode representar melhor? Esse era o dilema que devia nortear as pessoas a escolher e não quem é o melhor candidato a primeiro-ministro. A reforma do sistema eleitoral é uma prioridade absoluta, mas ninguém fala dela. Discutem-se outdoors.

sábado, 8 de agosto de 2015

A saída de Jon Stewart do Daily Show e o seu legado

A pedido do Jornal de Negócios respondi a quatro perguntas sobre a saída do Jon Stewart do Daily Show, aqui as deixo:

1- O Jon Stewart criou um modelo que através do humor resumia e decifrava as notícias do momento, tendo assim também uma vertente jornalística. Este modelo poderá ser replicado pelo seu substitutos ou outros, ou é único?

1- Hoje, muito do jornalismo tem evoluído no caminho que ele lançou. Logo, o seu modelo poderá ser replicado. Porém, o seu carisma e a sua fortíssima marca pessoal levarão tempo a ser igualados por outros. Jon Stewart não era um jornalista, mas actuava sobre os conteúdos jornalísticos. Para ele o que contava era a verdade e o que era falso. Era honesto e por isso a Time o considerou o locutor noticioso em que os americanos mais confiavam.

2- De que forma o programa e o próprio Jon Stewart alteraram o panorama dos media e da política?

2- JS e o Daily Show tornaram a cultura democrática mais mediática e ao alcance de todos e de todos os públicos. As notícias passaram a ser entretenimento e a política teve de se adaptar a este novo ângulo de abordagem noticiosa. Depois, o seu programa chegava a uma audiência/eleitorado jovem que habitualmente não liga a questões políticas. Por isso os políticos também viram ali uma oportunidade de se aproximarem de uma faixa que se alheava da sua mensagem. Os políticos deixaram o seu pedestal e tiveram que vestir umas vestes mais "cool" para saírem bem do seu programa. Assim o Daily Show desmistificou e desarmou a couraça de quem se levava a sério de mais

3- Ao longo dos anos Jon Stewart foi também ganhando uma força de influência política. Porquê? Como se pode explicar esta situação?

3- a sua influência veio pelas audiências e pela credibilidade que granjeou nestes 16 anos de programa. Não alinhava com a mentira e não tinha medo de enfrentar os poderosos. A sorrir e a fazer rir vestiu causas e tornou-as acessíveis a todos. A linguagem do humor inteligente é poderosamente eficaz e navegou pelo entretenimento mudando o estilo de jornalismo. Era honesto e independente e isso robusteceu a sua marca pessoal. Esse é o seu maior legado e influência que deixa

4- Influenciou, de alguma maneira, a política interna norte-americana? Nomeadamente a transição Bush/Obama?

4- É sabido que JS, sem tomar partido, era mais simpático para os Democratas do que para os Republicanos. Atacou Cheney, Rumsfeld e W. Bush na mentira da guerra do Iraque, mas também atacou as insuficiências do Obamacare. Foi um centro de independência sem se misturar com as querelas internas da política americana. Mas a sua capacidade de entrar na linguagem dos mais jovens foi essencial para o triunfo da linguagem de proximidade da geração Obama. Ao fim de 16 anos são muitos no mundo que gostariam de fazer um decreto - como Obama lhe disse a brincar na ultima entrevista - a proibir a saída de Jon Stewart do Daily Show. Para já o jornalismo, o debate e a comunicação política ficarão mais pobres nos próximos tempos. Mas "the show must go on"