quinta-feira, 30 de julho de 2015

5 livros para o Verão

"Gente Independente", Halldor Laxness, Cavalo de ferro. Um dos grandes romances da literatura, um dos seus personagens mais fascinantes, Bjartur, na Islândia do início do século XX.

"Neve", Orhan Pamuk, Presença. Eu sou um grande fã deste turco que já ganhou um Nobel da literatura. Este é o seu romance mais político e importante de ler na época que vivemos.

"Arquipélago", Joel Neto, Marcador. É um dos grandes romances portugueses do ano. Um livro de regressos, de sortilégios, de personagens inesquecíveis. Onde a Atlântida é apenas o mito e os Açores o postal ilustrado onde acontecem as emoções.

"O Livro das Lendas" de Selma Lagerlof, Livros do Brasil. Uma série de histórias para pensarmos. Pequenas pérolas bem escritas.

"Mística fatal", Louise Penny, D. Quixote. Para policial, escolho um dos três melhores editados este ano - os outros são o último da Camilla Lackberg e As Sombras sobre o Cairo, de Parker Bilal -, passado no Canadá, menos violento e mais dedutivo. Uma escritora mais na linha de Agatha Christie.

E até dia 8 de Agosto

quarta-feira, 29 de julho de 2015

A recuperação da Livros do Brasil pela Porto Editora

Com muito tempo de antecedência, e antes de todos desatarem a escrever os balanços do melhor do ano lá pelo Natal, quero já deixar registado que, para mim, um dos destaques de 2015 é a recuperação sustentada da chancela Livros do Brasil, pela Porto Editora.

Um dos melhores catálogos de lançamentos deste ano, grandes autores e obras-primas, edições cuidadas e um grafismo retro, clássico e bonito, que relembra sem mácula as velhinhas edições - com sotaque brasileiro nesses tempos - de antanho.

Com esse selo estão nas livrarias Steinbeck, Hemingway, Virginia Woolf, Capote, Malraux, Camus, Thomas Mann e ainda James Salter com o magnífico "Tudo o que conta" ou as sublimes histórias de "O Livro das Lendas" de Selma Lagerlof. É uma das melhores coisas do ano e melhor ainda porque possibilita lazer de qualidade e mais cultura. De parabéns a Porto Editora.

terça-feira, 28 de julho de 2015

A Volta a Portugal em bicicleta na RTP

Sou um grande adepto de ciclismo, considero uma extraordinária modalidade que põe à prova os limites dos atletas, que proporciona grandes espectáculos, que mostra a beleza das paisagens e é dos poucos desportos onde os adeptos estão mesmo quase em contacto directo com os desportistas.

No nosso País, a Volta a Portugal é a prova raínha, a que puxa mais espectadores para as estradas e para a frente das televisões. A RTP realiza uma grande transmissão que junta também, para lá do combate nas estradas, a animação das terras por onde passa a caravana.

Por estas alturas, e com transmissão no canal 1, a RTP tem dos melhores resultados de audiências do ano. O ciclismo é uma modalidade que agrada a muita gente, mostra muitos pontos de Portugal que durante quase todo o ano estão esquecidos. Depois, a estação pública mobiliza uma grande equipa que tem na qualidade, conhecimento e simpatia do Marco Chagas e do João Pedro Mendonça as suas faces mais visíveis, mas é uma enorme equipa de informação, conteúdos e produção.

Mas aproveito para dar uma sugestão á RTP: o ciclismo tem uma temporada com mais provas em Portugal, não muitas, porque o calendário vem empobrecendo ao longo dos anos, mas há a Volta ao Algarve (que até traz muitas estrelas do pelotão internacional), Campeonatos nacionais, Grande prémio Joaquim Agostinho, entre outras. Sabendo que tem custos, mas porque não se aposta mais na emissão destas provas que tenho a certeza motivariam grande interesse e audiências, até porque temos hoje bons ciclistas nos diversos escalões - não há crise de qualidade - e porque os patrocinadores estariam mais interessados na modalidade se ela tivesse mais visibilidade.

Mas agora, a partir de amanhã, temos a nossa Volta na estrada. E a sua transmissão é serviço público, logo, só poderia estar na RTP. Este é o serviço público inquestionável, dá gosto que o canal de todos nós dê o melhor de si, faça mais uma vez um excelente trabalho, a mostrar cada canto do nosso belo País.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

A Factura da Sorte e a amiga Olga

«O Governo “retirou indevidamente dinheiro às receitas de IVA de 2014” para financiar a Factura da Sorte, o concurso lançado no ano passado como instrumento de combate à economia paralela e evasão fiscal através de incentivos aos contribuintes. (...) é o próprio Tribunal de Contas quem aponta o dedo ao uso indevido de receitas do IVA, no valor de 6,8 milhões de euros, para pagar as despesas do sorteio que atribui um Audi por semana» (notícia do Expresso, citando o CM).

Como qualquer amiga Olga (mas respeitando a Olga Cardoso) o Governo pôs-se a dar chaves de 45 automóveis aos premiados. Houve quem achasse isto uma óptima ideia, estão no seu direito. Eu nunca achei.

Para lá do que nos roubam descaradamente, depois ainda virem armados em popularuchos e atribuírem carros é de uma chica-espertice saloia. Parece que achavam que o povo ia começar a pedir os recibos a torto e a direito para ver se ganhavam um Audi. O Governo queria ser uma Amiga Olga, mas é apenas uma madrasta que não conhece os seus.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

O Twitter, a comunicação política e as negociações com a Grécia

Hoje, o Jornal de Negócios publica em primeira página "A Guerra do Twitter". Uma peça sobre a importância dessa rede social na comunicação política e a sua presença nas negociações entre a Europa e Grécia. Pediram a minha opinião e aqui deixo as perguntas e as minhas respostas.

- Na sua opinião, as negociações do acordo da Grécia teriam sido diferentes sem o Twitter?

- Julgo que não seriam diferentes, continuariam era mais no segredo dos deuses, em sala fechada. A política é a arte do compromisso e isso só é possível cara a cara. O Twitter pode ter servido algumas vezes como arma de pressão ou de dissuasão entre os participantes, jogando com o que era passado para a opinião pública, mas as negociações, os acordos, teriam de ser sempre uma decisão de homens e mulheres numa sala sem salas de chat.

- Esta rede social foi utilizadas por vários decisores das negociações incluindo durante reuniões importantes, bem como para esclarecer notícias que iam saindo nos media. O Twitter é mais eficaz do que organizar uma conferência ou enviar comunicados por exemplo?

- O Twitter tem a capacidade de gerir mais proximidade. Ali conversamos para as pessoas que nos querem seguir, sem intermediários. Essa percepção de proximidade com as pessoas é menor em conferências de imprensa ou quando os media são o veículo por onde canalizamos as notícias. Portanto, aqui não é tanto uma questão de eficácia, pois os media tradicionais têm uma capacidade muito maior de atingir um maior número de pessoas e assim continuarão. Aqui a comunicação política tenta criar é essa percepção de proximidade e de ligação às pessoas.

- O Twitter foi a fonte de muitas das notícias das negociações do acordo da Grécia. Na sua opinião, enriquece ou empobrece o espaço público? Ajuda a construir uma opinião pública mais informada e a ter uma noção mais clara dos acontecimentos?

- É verdade que sim que foi uma importante fonte. A internet dá informação, não dá conhecimento. As redes sociais, nomeadamente o Twitter, permitiram a ascensão de micro poderes, de outros líderes de opinião que não estavam nos media tradicionais. Ora, isso em muitos casos enriqueceu o debate e trouxe outros protagonistas, mas as redes sociais, ao contrário do Gate-Keeper dos media tradicionais, ainda não têm maneira de escolher o que é bom e o que é mau. Como dizia há pouco tempo o Umberto Eco: «Os jornais já não têm poder sobre o homem da rua. Não tenho a certeza que a internet melhore o jornalismo. Todos os que habitam o planeta, incluindo loucos, têm hoje direito à palavra pública». Agora, sem dúvida, há um maior acesso à informação, mas continuo a pensar que é fundamental na discussão no espaço público o critério e a independência de um jornalismo livre, são os media tradicionais que devem continuar a dimensionar e balizar o que é mais importante, mas acompanhando o que de bom vem aparecendo das redes sociais e integrando-o.

- O Twitter é actualmente uma das principais ‘armas’ políticas? O recente caso da Grécia veio, ou irá, alterar a importância deste instrumento como meio de comunicação política?

 Exemplos para lá da Grécia: David Cameron, depois de ganhar as eleições na Grâ-Bretanha, anunciou em primeira mão o elenco do seu Governo no seu Twitter pessoal. Hillary Clinton anunciou que se candidatava à Casa Branca via Twitter. Dois exemplos claros de como o Twitter se tornou uma importantíssima arma de comunicação política. Depois, é sabido que vários actores políticos o usaram na sua ascensão e continuam a usá-lo na sua acção política diária. Dou o exemplo de Itália onde Beppe Grillo se tornou um dos políticos mais populares via twitter, e onde o primeiro-ministro Matteo Renzi é um fervoroso utilizador do mesmo. Mas são 4 casos que poderiam ser milhares. Hoje em dia os políticos usam o twitter como maneira de comunicar directamente com as pessoas. As negociações com a Grécia foram relatadas quase em tempo real pelos diversos protagonistas presentes nas reuniões via twitter. Há um caminho ainda a percorrer, mas as redes sociais têm esse lado de garantir uma percepção de proximidade. São canais fortíssimos e irão aumentar a sua presença na comunicação política. mas como em tudo na vida, na base de toda a comunicação está o bom senso. Há que saber ponderar o uso do Twitter e combiná-lo com a comunicação nos media tradicionais.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Obama, Jon Stewart e Jon Snow

Obama é provavelmente o presidente americano que mais se assemelhou a uma estrela pop. Desde a sua campanha até à sua posterior estadia na Casa Branca, a sua acção política sempre se misturou em termos de comunicação política com os principais ícones da cultura americana, integrando-se e integrando-os.

Obama, nos últimos dias, deu a sua última entrevista ao "Daily Show", do Jon Stewart. Um excelente momento de televisão, que passou pela sua postura descontraída, pelo seu humor - por exemplo ao dizer que tinha emitido um decreto: «o Jon Stewart não sai do Daily Show"» -, mas combinando tudo com as mensagens políticas que queria passar, nomeadamente a satisfação com o acordo nuclear obtido com o Irão, carimbado com um soundbyte forte: «não se faz a paz com amigos».

Nesta semana, foi notícia também uma conversa do presidente com David Nutter, realizador de outro fenómeno da cultura americana e não só, "A Guerra dos Tronos, da qual Obama é fã. «Ao site Entertainment Weekly, o realizador David Nutter contou que o presidente dos Estados Unidos lhe colocou "a mão no ombro" e perguntou: "Você não matou o Jon Snow, pois não?". A resposta não tardou. "Jon Snow está mais do que morto", retorquiu Nutter. "Tive medo que ele me enviasse para [a prisão de] Guantánamo, mas felizmente ainda estou aqui", brincou o realizador, acrescentado que, "quanto a Jon Snow, ele está morto". A terminar, e sem ser capaz de esconder a sua deceção, Obama desabafou: "Você mata sempre as minhas personagens favoritas".

Dois exemplos em como a comunicação política terá de se descontrair e saber conviver com a cultura pop. Os políticos ganharão com isso.



 
 
 

 

 

terça-feira, 21 de julho de 2015

Já se esqueceram do BPN?

«No final de 2014 o saldo acumulado das receitas e despesas orçamentais decorrentes da nacionalização e reprivatização do BPN, bem como da constituição e funcionamento das respectivas sociedades-veículo Parvalorem e Parups ascendia a um défice de 2691,2 milhões de euros”, escreve o tribunal no relatório de acompanhamento de execução orçamental da administração central referente ao ano passado» (a notícia de hoje é do I).

Quase 2,7 mil milhões de euros que fomos nós que tivemos de pagar em impostos e a suportar a austeridade imposta pelo Governo para tapar o regabofe de um banco controlado pela cáfila cavaquista.

Para lá do que tivemos de suportar, a maior parte dessa pandilha, que teve em Cavaco Silva o seu mentor e posteriormente até acionista do BPN foi, continua toda em casa, outros a continuar a fazer negócios, e outros ainda aparecem a dar opinião por aí. Às vezes, com outros temas, as pessoas parece que se esquecem. E isto convém relembrar.

domingo, 19 de julho de 2015

Sugestões para a semana

Livros

«O Outro Lado do Paraíso», Paul Theroux, Quetzal, 373 páginas. Provavelmente o melhor escritor de viagens da actualidade, julgo que já li todos os seus livros editados em Portugal. Este último é um romance que mostra todo o seu amor por África, mas também a desilusão por um continente que está a perder a sua oportunidade de crescer.

«Objectos Cortantes», Gillian flynn, Bertrand editora, 316 pág. Quem adorou "Em Parte Incerta", tem aqui a oportunidade de perceber que já no seu primeiro livro a autora tem uma qualidade quase única de não conseguirmos largar o livro até o terminar.´

Cinema

Deixo duas sugestões que passam na televisão. Amanhã às 6.55h, no TVC1, podem ver um dos melhores filmes do ano, "Leviatã", de Andrey Zvyagintsev, com corrupção numa cidade da Rússia e uma metáfora dos tempos actuais de Putin.
Na quarta, 1.10h, no ARTE, o meu filme preferido de Bernardo Bertolucci, "O Conformista", com o grande Jean-Louis Trintignant em 1936 nos tempos do fascismo de Mussolini.

Séries

As grandes estreias - séries das quais gosto bastante, especialmente a segunda - para esta semana passam no TVSeries, as duas à mesma hora, 23.30h. Na terça, a terceira temporada de "Masters of Sex" e na quarta a terceira temporada do excelente "Ray Donovan".

Documentários

Na segunda na RTP2, 23.30h, "Portugal e o japão", uma longa relação.
Na terça. 19.55h, no Arte, "Quem controla o mar?", que mostra que foi ali que começaram os grandes movimentos do liberalismo.
Na quarta, 1.50h na TV5, "Populismo no feminino", sobre a extrema direita e as mulheres que lideram esses movimentos.

Restaurante

Já não é o que era, mas também já não se paga o que se pagava, "Ribamar", ali na marginal de Sesimbra.  

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A máxima mais importante para tudo na vida

«Prever muito, improvisar pouco»

Karl Rove

A vergonhosa manobra de promoção de Vieira na SIC

Qualquer pessoa tem o direito de se promover no espaço mediático. Mas nem todos os meios de comunicação social têm de embarcar nessas manobras de promoção pessoal. O que se passou ontem na SIC, e que se prolonga por mais dois dias no Jornal da Noite, é uma vergonha.

Nenhum homem é maior que uma instituição. Assim, ao pintar com as cores de endeusamento Luis filipe Vieira, parece que o Benfica não existia antes dele. Como se alguém pudesse apagar dois grandes senhores e dirigentes respeitados por todos os adeptos do futebol como Borges Coutinho e fernando Martins.

Que há coisas bem feitas? Com certeza que sim e seria pouco honesto não o reconhecer mesmo sendo adepto de outro clube. Porém, sabemos que o Benfica terá eleições em breve e esta é uma manobra de promoção de um homem que viverá nesta época um dos seus maiores desafios, e que não pode perder, e não parte numa situação muito favorável.

O Benfica perdeu o treinador mais ganhador da sua história, perdeu a muleta do BES e perdeu a muleta da arbitragem que controlava a seu belo prazer com a introdução do sorteio em vez das nomeações. É certo que mantém a nebulosa relação com Jorge Mendes e Peter Lim e subsistem negócios que continuam a não ser investigados e deviam. Será que a SIC vai perguntar à CMVM se está a investigar esses negócios? Julgo que não, e isso é obrigação e dever do bom jornalismo, não apenas embarcar no endeusamento de Vieira.

Antes de Vieira o Benfica tinha passivo/dívida de 80 milhões de euros. Hoje tem activos? Sim. Mas também é o eterno campeão nacional da dívida/passivo com mais de 500 milhões de euros. Isso vai constar na reportagem da SIC? Julgo que não.

Ouvi vários funcionários do Benfica, principescamente pagos, a elogiarem a capacidade de trabalho, o talento comercial e de gestão de Vieira. Mas porventura a SIC vai mostrar que este deus dos negócios tem hoje uma dívida pessoal, do seu grupo empresarial, de perto de mil milhões de euros à banca?

Só tenho a dizer que a SIC não exerceu o seu mandato de independência que deve tutelar quem faz jornalismo. Se a reportagem passasse na BTV, nada a dizer e até podia compreender. Agora, na televisão de Pinto Balsemão e que foi de Emídio Rangel, que tem uma redacção de excelentes e sérios jornalistas, é uma vergonha.  

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Insondáveis sondagens

Eu não acredito em sondagens, sobretudo as que não são à boca de urna em dia de eleições. A maior parte das vezes, e em muitas partes do mundo, enganam-se, relembrem-se num exemplo recente do que se passou em Inglaterra, e em Portugal temos muitos casos históricos, nomeadamente as autárquicas de 2001.

Por isso, e com legislativas e presidenciais à porta, recomendo o livro dos meus amigos Diogo Agostinho e Alexandre Guerra, "Insondáveis Sondagens" (edição Aletheia). Até por um motivo: é que as sondagens erram mas a culpa morre sempre solteira. E continuam a errar. O retrato que os autores executam dá uma excelente margem de pensamento sobre elas a quem o lê.