quinta-feira, 30 de abril de 2015

Os erros do "independente" Sampaio da Nóvoa

1º erro - Sampaio da Nóvoa é um desconhecido para os portugueses. Não tem notoriedade nenhuma e não pertencendo a um partido não tem uma máquina por trás. Por isso as televisões estiveram muito bem ontem ao não transmitir em directo o lançamento da sua campanha. É mais um entre muitos que quer ser Presidente, é abusivo ele achar que tem importância para marcar o seu discurso de apresentação para as 20.05h para os telejornais. É ridículo.

2º erro - Sampaio da Nóvoa aparenta alguma ingenuidade. Os portugueses podem respeitar as cátedras, mas não as valorizam. Acham que um professor é um tipo que diz umas coisas, mas não trabalha. E a verdade é que ninguém conhece o seu trabalho e para lá de uma discursata nunca se ouviu o seu pensamento sobre nada de nada. Chegar com cabelos brancos e ter estado calado toda uma vida não é currículo para ninguém.

3º erro - Sampaio da Nóvoa vende a percepção que é independente. Efectivamente esse é um bom cartão de visita, pois os portugueses estão cansados dos partidos. Porém, essa percepção cairá rapidamente por terra. É que ele é o candidato do PS que ainda não formalizou o seu apoio institucional para não desviar o foco das legislativas. Aqui gravitam dois erros: o de posicionamento do candidato face aos apoios que já recebeu, mas, sobretudo, do PS que julga que encontrou o seu bezerro de ouro mas terá com este candidato uma pesada derrota e a perda dos eleitores do centro.

4º erro - Considero humor negro que Henrique Granadeiro, um dos carrascos da PT, seja um dos seus apoiantes, marcando ontem presença e cumprimentando o candidato na presença dos media. Para quem. como Jorge Sampaio, mencionou que Sampaio da Nóvoa podia ser um factor de rejuvenescimento do debate político, apoios destes matam qualquer bom propósito que tenha.

terça-feira, 28 de abril de 2015

O Fim do Homem Soviético

Livro muito interessante para compreender a passagem da União Soviética para Rússia. A esperança e desespero posterior com a Perestroika. Um país de gente que `tinha orgulho na União Soviética mas não gostava do comunismo. Um país de gente remediada com 90 rublos mas que agora com 20 dólares não compra nada.

Chama-se "O Fim do Homem Soviético", é dado à estampa pela Porto Editora, e é escrito por Svetlana Aleksievitch que constrói um puzzle de diversas opiniões de soviéticos/russos. Um caleidoscópio de emoções que retrata primorosamente a realidade, sem tratamentos de imagem, de um País que ainda está a aprender a sobreviver à ganância do capitalismo mas que mantém a soberba do império.

A opinião popular dos que se enamoraram de Gorbatchov mas que rapidamente acharam que ele devia ter sido julgado por matar um país, «vendendo-o por comida». Porque como ele dizia, «Não se pode continuar a viver assim».

Mas esqueceram-se de dizer uma coisa aos soviéticos: «ninguém lhes disse que íamos ter o capitalismo, pensavam que se começava a corrigir o socialismo, aquela vida soviética que todos conheciam. Enquanto nos comícios se esganiçavam: "Ieltsin, Ieltsin"- estavam a ser roubadas. Nas suas costas repartiram as fábricas, o petróleo e o gás- aquilo que como se diz, vem de Deus».

Nesse contraste com a actualidade, «a maioria das pessoas não tinha espírito antissoviético, só queriam uma coisa - viver bem. Que fosse possível comprar calças de ganga, um vídeo, e o sonho máximo, um automóvel. Todos queriam roupas coloridas, comida saborosa». Esta era a essência dessa Primavera de Gorbatchov, a esperança de uma vida melhor. Mas depois, o outro lado da página: «Em vez da pátria, um grande supermercado. Se a isto se chama liberdade, eu não quero esta liberdade».

Diz nessa construção de mosaico que é o excelente livro, Elena Iurievna, 49 anos, terceira secretária do comité distrital do partido: «Talvez daqui por 50 ou 100 anosse escreva com objectividade sobre essa nova vida a que chamávamos socialismo. Sem lágrimas nem maldições. Começarão a escavar como na antiga Tróia».

Talvez esses arqueólogos do tempo de transição URSS/Rússia comecem por tentar explicar que «comunista era aquele que lia Marx, o anticomunista era aquele que o compreendia». A ler, recomendo eu.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Há certas coisas que não se dizem dra. Assunção Cristas

Confesso que tenho alguma simpatia pela Assunção Cristas. Conheço a maior parte dos políticos portugueses de topo - julgo que o único com quem nunca falei foi Cavaco Silva - mas esta política que Paulo Portas descobriu e como eu disse uma vez à Meios & Publicidade é um bom produto de comunicação, sendo de uma nova geração que veio de fora da política, também nunca conversei com ela.

Hoje, numa entrevista que faz manchete do Sol, diz duas coisas que se o jornal fosse muito lido dariam que falar. Porque há coisas que por muito verdadeiras que sejam não devem ser ditas.

1- «Portas teve a flexibilidade de voltar com a palavra atrás». A ministra pode tentar justificar o injustificável, mas a palavra de uma pessoa é tudo. Portas, efectivamente, voltou com a palavra atrás, mas isso manchará sempre a sua reputação e será sempre alvo de gozo e ironia, algo em que os portugueses têm algum talento. Mais valia nem ter mencionado esse episódio e ter-se esquivado que isso eram coisas do passado e a coligação do Governo continuou a trabalhar.

2- «Os fogos florestais têm tendência a aumentar em ano de eleições». Tenho a certeza que por ter a tutela da Agricultura, Assunção Cristas terá dados estatísticos claros para produzir esta afirmação, porém, quem a lê parece que vê um exercício maquiavélico de quem está na oposição de andar a semear fogos pelas nossas terras e florestas. No caso, é uma afirmação incendiária e perigosa.
 

quinta-feira, 23 de abril de 2015

As cirurgias plásticas na política

Leio no DN: «Jeb Bush perdeu vários quilos com dieta do paleolítico e o também republicano Chris Christie colocou banda gástrica. Há boatos de que a democrata Hillary Clinton terá feito um lifting».

A imagem é extremamente importante como todos sabemos, mais ainda quando é a televisão o veículo essencial de uma campanha política e na América uma corrida presidencial dura mais de um ano.

Em novembro de 2014, a revista Vanity Fair dizia das presidenciais americanas: «É um concurso de beleza». Não é. Mas sem imagem é mais complicado, com gordura a mais é mais complicado porque a televisão engorda, e um candidato deve trazer em si um elixir da juventude, que numa candidata como Hillary que tem quase 70 anos tem de rejuvenescer.

Uma campanha política é, sem dúvida, na globalidade, uma operação de cosmética. Onde se apresenta o melhor de um candidato, onde se aparam os seus defeitos e se acentuam os defeitos dos outros. As cirurgias plásticas do marketing político são normais, as cirurgias plásticas e outros tratamentos de beleza dos candidatos ainda são notícia.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Uma sugestão para a RTP e como eu a vejo

Virgilio Castelo foi o homem escolhido pela nova administração da RTP para liderar o departamento de ficção e pensar o que se deve produzir. Continuo pessoalmente a entender que a RTP deve ser muito mais do que uma cópia dos privados e deve inovar, exactamente, na ficção.

Não só com séries históricas, mas imprimindo um dinamismo na produção nacional que a leve a uma consistente qualidade e conseguindo-a exportar. Por isso é no filão das séries, que hoje agarram muito mais um público esclarecido e jovem, que a RTP deve entrar.

Li o administrador Nuno Artur Silva dizer isto ao DN: «A ambição do serviço público tem de ser fazer mais. Temos de saber pensar de uma forma diferente. Hoje, sem ferir ninguém, temos o Bem--Vindos a Beirais, que faz sentido na RTP1. Mas daqui a uns anos podemos ter séries como o Borgen».

Está a ver bem e por isso dou uma sugestão aos responsáveis da ficção da RTP. Agarrem no excelente livro do Fernando Sobral, "Ela Cantava Fados", um policial bem escrito, com diálogos geniais e que tem duas marcas que podem projectar uma série a ser produzida nos mercados internacionais: o Fado e Lisboa. Isto é serviço público e projecção de Portugal, dois objectivos indissociáveis da RTP.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

O partido dos acima dos 50 anos

Para quem anda distraído, são as pessoas acima de 50 anos que têm uma maior participação nos actos eleitorais. É também esta camada populacional que mais esteve submetida ao chicote do Governo. Porque isto de ter «os cofres cheios», como dizia a Miss Swap, não surgiu por decreto nem por varinha mágica. Todos nós pagámos e, em especial, os mais velhos e reformados.

Logo, é aqui que se joga o destino das próximas legislativas. O Governo está-se marimbando e já anunciou mais cortes nas pensões. Para lá do autismo e estupidez há um exercício autofágico apenas com o fito de agradar às imposições europeias e a Angela Merkel.

O PS até agora não mostrou nada, mas António Costa pisca o olho a este eleitorado dizendo que quer mais «dignidade para os idosos». A estratégia eleitoral do PS vai passar por aqui, é aqui que se ganham eleições.

domingo, 19 de abril de 2015

Sugestões para a semana

Livros

António Ferro: o inventor do salazarismo , D. Quixote, 388 páginas. No link a minha crónica sobre o livro.

A Lógica do Dinheiro, Niall Ferguson, Temas & debates, 728 páginas. Onde convergem o dinheiro e a política? O poder das nações e o que mexe com ele. Mais um grande livro deste historiador.

Cinema

Hoje 22h no TVC2, "Era uma vez na Anatólia". Uma obra prima do turco Nuri Bilge Ceylan
A comprar uma nova "caixa" de Douglas Sirk que contem "Desejo de Mulher", "Herança de Honra", "O sinal do pagão", "Abnegação" e "Os amantes de Salzburg"

Séries

Para lá do regresso da Guerra dos Tronos, alguma expectativa com "Odissey" que estreia no TVSeries hoje às 22h

Documentário

A Europa à beira do crash. Terça, 21.25h, no Arte. Um documentário passado em 2060 sobre uma realidade que já acabou chamada União Eiropeia

Música

Hoje no Coliseu os geniais Kraftwerk. E dia 5 de maio Eliane Elias, o jazz com sotaque brasileiro no CCB

sábado, 18 de abril de 2015

Guia de conduta para Facebook e Twitter

Leio no DN que a conservadora de selo de qualidade BBC, a poucos dias das legislativas inglesas, criou um novo guia de conduta para a sua equipa no Facebook e Twitter.

«Não deverá indicar a sua preferência e ideologia política ou publicar nada que comprometa a sua imparcialidade, e não criticar ou lançar farpas sobre coisas de forma liberal e partidária» lê-se no novo guia.

E acrescentam: «Nestas plataformas, aquilo que importa é personalidade e humanismo». «Não faça nada estúpido. Você é um jornalista da BBC, aja como tal».

São indicações interessantes para evitar que os seus jornalistas percam a credibilidade e para que não se tornem eles próprios notícia por comentários nas redes sociais. Acima de tudo, deve prevalecer o bom senso e isso não depende nem de guias de conduta nem de códigos legislativos, depende apenas do próprio.

terça-feira, 14 de abril de 2015

António Ferro: o inventor do salazarismo

Do excelente livro do jornalista Orlando Raimundo, publicado com a chancela D. Quixote, que recomendo leitura, e que tem por título o mesmo do post, retirei vários ensinamentos.

Em primeiro lugar, a curiosidade de perceber melhor o primeiro marqueteiro português e a grande manobra de marketing que conduziu no Diário de Notícias com as suas entrevistas a Salazar.

Depois, já a comandar a propaganda do regime, da qual nunca foi ministro - uma das maiores desilusões de toda a vida - encenou diversos momentos e criações que hoje fazem parte da tradição portuguesa: o galo de Barcelos, as marchas populares, Manoel de Oliveira e a Tóbis, onde, com António Lopes Ribeiro, construiu uma indústria do cinema que realizou os clássicos portugueses que todos conhecemos do pobretes mas alegretes.

Com ele, a ideia de que para vender Portugal, e o seu regime, no estrangeiro, tem de se apostar na vinda de jornalistas, de artistas de diversas artes e da implantação da marca Portugal nas exposições universais, algo que faz parte da cartilha actual da promoção de qualquer país.

Mas ao contrário da percepção existente, aliás semeada pelo próprio Ferro, o retrato que lhe pinta não é o melhor. Não é nenhum génio vanguardista, mas um serventuário de um regime em que sempre acreditou. Manipulou a sua carreira de jornalista para cair nos braços de Salazar, sendo que o seu herói verdadeiro era Mussolini. Mas vivia em Portugal e o homem que pouco sorria e não se divertia com a vida foi o que serviu na sua vida de poder e criação de poder.

Por isso, uma lição que retiro, é que para encenar, comandar e influenciar a vida dos outros, é preciso sermos génios na criação da nossa própria personagem. Ferro era um mestre na criação de si próprio.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Lições da Noruega

A Noruega tem a maior taxa de leitura do mundo, com uma média de 25 livros por pessoa/ano. De entre todos os títulos de autores noruegueses publicados todos os anos, uma comissão escolhe cerca de três centenas e o Estado compra mil exemplares de cada para distribuir pelas bibliotecas públicas. Todas as traduções de autores noruegueses para qualquer língua são subsidiadas bem como são atendidos (e pagos pelo Estado) todos os convites para promoção desses livros no estrangeiro.

Retirei esta informação da revista Ler deste trimestre. Sei que a Noruega é rica e o Estado é bem gerido, mas dá para comparar prioridades do Governo.

terça-feira, 7 de abril de 2015

António Costa e Fernando Medina

«Por outro lado, escolhe outro número 2. Sai Manuel Salgado, um independente que lhe trouxe credibilidade no primeiro mandato, e entra Fernando Medina, 40 anos, PS, com experiência governativa. Para lá de Medina ser um nome a seguir para o futuro, o mais importante é que Costa não corre riscos. Não deixa como 2 o tal independente e mete um companheiro de partido, com perfil de seu sucessor e sem levantar problemas», escrevi estas linhas, neste blog, em 29 de Maio de 2013.

O que antevi nessa altura é que António Costa não corria o risco de deixar a Câmara de Lisboa nas mãos de um independente e criava um sucessor do PS já preparando o terreno para outros vôos. O que quis dizer também com isso é que Costa enganou os lisboetas que votaram nele quando no seu âmago já sentia o afã de avançar para outros desafios.

O que deixou Costa em Lisboa? De bom, para mim, o trabalho no Terreiro do Paço e Ribeira das Naus, a recuperação de quiosques, algum apoio ao empreendedorismo com a Start Up Lisboa e a independência que deu ao Turismo de Lisboa para promover bem a nossa cidade.

Mas deixou uma cidade suja, nunca esteve tão suja como agora, negócios imobiliários pouco claros (o triângulo de Alcântara para o grupo José de Mello e o prédio perto do Sheraton para o grupo Espírito Santo, são dois exemplos), criou um pandemónio no Cais do Sodré, trânsito caótico e deixou o Marquês e a Avenida da Liberdade de pantanas. Visão estratégica global da cidade não existiu e rasgos de génio nunca os vi, talvez porque sendo, sem dúvida, um político hábil lhe falta o perfil de presidente de câmara.

Agora, fica em Lisboa, sem plebiscito popular, Fernando Medina. Perfil baixo, discreto, sem uma ideia para a cidade. Aliás, Rui Moreira chamou-lhe «um grande portuense». É natural que não tenha paixão pela cidade como um lisboeta de gema, por isso aconselho que lhe comecem por explicar a diferença entre a Mouraria e a Madragoa, entre a Ameixoeira e o bairro do Arco do Cego. De resto, serão dois anos de Lisboa parada até que venha algo de bom.

domingo, 5 de abril de 2015

Sugestões para a semana

Livros

"A culpa no cinema de Hitchcock", Renato Barroso, Letras Encantadas, 510 páginas. Um livro que me está a surpreender de um autor português que se deu ao trabalho de analisar quase todos os planos de todas as fitas do grande realizador. Recomendo vivamente.

"Sombras sobre o Cairo", Parker Bilal, Porto Editora, 376 pág. Grande policial que inicia uma nova saga de um detective privado de origem sudanesa, Makana. Um estilo diverso, uma construção interessante até para cortar com a escola nórdica que se tem imposto em termos mundiais.

Cinema

Recomendo que se desloquem ao Nimas onde estão em novas cópias várias grandes películas do mestre do neorrealismo italiano, Roberto Rosselini. Já os vi todos noutros tempos, alguns na Cinemateca, mas as grandes obras cinematográficas merecem muito mais do que uma visão.
A comprar seis filmes do maior realizador indiano, Satyajit Ray: O Santo, O Cobarde, Charulata, O Deus Elefante, O Herói e A Grande Cidade.

Séries

Para lá das que já mencionei noutros posts, chamo a atenção para a segunda temporada da dinamarquesa/sueca Bron, no AXN, e a nova American Crime, no TVSeries que é um autêntico murro no estômago de emoções.

Documentário

No Arte, na quarta, 2.25h, "Depressão: uma epidemia mundial". Sobre algo que ataca milhões de pessoas em todo o mundo e as suas causas.

Restaurante

Sushic, provavelmente o melhor restaurante japonês de Portugal. Almocei lá há pouco tempo e deixou-me deslumbrado com a qualidade e serviço.