quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O Lobo e o Escravo

Falar de Martin Scorsese é falar de um monstro da Sétima Arte, um homem que adora cinema e que o estuda e recupera. A ele agradeço, assim de memória, "O Rei da Comédia", "Casino", "Taxi Driver", "Touro Enraivecido", "Idade da Inocência", "Tudo Bons Rapazes" ou o mais injustiçado "Bringing out the dead" que é prodigioso.

Mesmo alguns filmes menores são melhores do que a média de Hollywood. Depois da sua deliciosa e ternurenta homenagem ao cinema com "A Invenção de Hugo", Scorsese regressa com o "Lobo de Wall Street". Parece enérgico, mas é a pura ilusão da droga consumida por Jordan Bellfort, a personagem real do filme.

Scorsese, apesar da excelência da sua obra, foi apenas reconhecido com Óscares por uma sua obra menor "Departed", que se baseava na trilogia "Infiltrados", made in Hong Kong. Este "Lobo" é um filme bom para os patamares actuais da indústria de Hollywood, teria 3 estrelas se eu fizesse crítica de cinema.

Momentos hilariantes, diverti-me na primeira hora e meia, mas é um filme desequilibrado. Fez-me lembrar as mesmas sensações que tive com "O Aviador", sobre Howard Hughes, também uma parceria Scorsese/Di Caprio. Podia ser um grande filme mas falta profundidade no argumento e nos desempenhos.

Houve quem o comparasse a "Wall Street", de Oliver Stone, mas não tem nada a ver. A personagem Jordan é um comercial que entra numa vida de deboche sem muita explicação. Gordon Gekko tem o cinismo e a perfídia do poder oculto do dinheiro. Onde o primeiro é consumido pelas drogas que toma, o outro naufraga no seu "killer-instinct" sem emoções.

Sobre "12 anos escravo", o terceiro filme do realizador inglês Steve McQueen, tem muito dos seus dois filmes anteriores de que gostei: "Hunger" e "Shame", nomeadamente o seu magistral actor-fétiche Michael Fassbender, novamente em grande "performance". Também é um filme razoável, bom para os parâmetros da actual indústria.

Como em determinada época pessoas tinham de apagar os seus traços de personalidade para sobreviver. A violência dessa diluição e subtracção em cada plano do protagonista, Chiwetel Ejiofor, actor de uma magnífica série britânica "Na Sombra da Dúvida" (que passou no TVSéries).

Como sugestão, e passam nos TVfilmes, deixo os dois melhores filmes de 2013 para verem: "A Caça", de Thomas Vinterberg (que está nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro deste ano, com um genial Mads Mikkelsen) e "Lore", de Cate Shortland.

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