sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

À deriva *

Portugal está numa encruzilhada em que, obrigatoriamente, vai ter de se definir.
Portugal perdeu, pois trocou, um Governo de maioria absoluta por um de relativa ingovernabilidade.
Portugal está numa fase em que desacredita de si mesmo e de quem o governa. Quem nos governa perde milhares de horas com casamentos de homossexuais – respeito imenso – sem encontrar resposta nem uma poção mágica para os nossos problemas.
Mas Sócrates, apesar das inconsistências e da inexistência de centelha reformadora, está sossegado pois a sua oposição aguarda um congresso que será de catarse para se encontrar um momento agregador e purificador.
O PSD tem uma líder mas quer outro líder. Todos querem ser líderes, mas ninguém se assume. Um notável jogo de sombras e de omissões está a marcar este palco do PSD, um momento muito interessante para quem gosta destas coisas e que augura um congresso muito emocional, mais à medida dos melhores tribunos.
Daí que seja cada vez mais importante o que se vai passar na corrida a Belém. Cavaco Silva - nenhum Presidente deixou de se recandidatar desde Ramalho Eanes - tem garantido o apoio em uníssono do centro-direita. Ele que tem sido um contra-poder do Governo e que mantém ora paz e amor com Sócrates ou uma relação tensa.
O curioso é o que se passa à esquerda. Manuel Alegre – que dá grande entrevista à Frontline nesta edição – será o único candidato com força agregadora, capaz de unir toda a esquerda. Mas o PS pensará, a união da esquerda pode fazer perder o centro, daí as últimas declarações de Alegre que já vai dizendo que tem muitos apelos para se candidatar de pessoas do centro e da direita.
A ciência política ensina que quando há frentes polarizadas e unidas, isso pode assustar o centro. Sócrates nunca repeliu o centro e essa é a lição que leva alguns socialistas a preferir outro candidato.
Nomeadamente os soaristas que não esquecem o que passou o pai da democracia nas últimas presidenciais em que teve uma mancha no currículo ficando em terceiro lugar e ainda contando com o apoio do PS.
Pessoalmente, continuo a achar muito difícil este combate para Manuel Alegre. Cavaco tem mais experiência política num momento de grave crise que atravessa o país. Alegre lá vai dizendo, e bem, que um Presidente não governa. É um facto, mas é uma referência de estabilidade e nós portugueses, apesar da aprovação de algumas leis sobre temas fracturantes, ainda somos muito conservadores.
Mas enquanto estas lutas e cenários se vão acentuar, Portugal continua à deriva.

PS: Publicado na Frontline deste mês

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